‘Matemática da Paisagem’, trabalhos recentes de Cesare Pergola

‘Matemática da Paisagem’, trabalhos recentes de Cesare Pergola
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‘Matemática da Paisagem’, trabalhos recentes de Cesare Pergola

Nomeada  Matemática da Paisagem – escolha do próprio artista para esta individual na Casa Contemporânea – revela muito sobre os trabalhos, mas mantém em suspenso  juízos que podemos elaborar ao vê-los.

Cesare Pergola nasceu em Limosano e em  Florença desenvolveu trabalhos em teatro experimental, performances, instalações e, em paralelo,   em sua área de formação: arquitetura. Que suas paisagens surjam de programas de desenho arquitetônico, com sua rigidez algoritmica e abstrata, torna-se natural. Em uma série anterior de trabalhos, Cesare também se utilizava destes programas, porém de maneira diversa; reproduzia imagens em pequena escala criando padronagens que se integravam compositivamente e eram impressas em tela sem interferências manuais.

Nestes trabalhos recentes as mudanças propiciaram uma maior interação compositiva com  os meios utilizados(desenho, serigrafia, vídeo e pintura).

As composições continuam sendo geradas por computador, mas agora são mediadas não por um artefato tecnológico e sim pela mão do artista. É ela que confere aos trabalhos um “amolecimento” das linhas e uma imperfeição humana, principalmente nos desenhos a nanquim. Acertadamente, Cesare mantém o registro rígido do desenho computadorizado num meio mais adequado, o vídeo, enquanto os desenhos são feitos a partir de vistas vetorizadas geradas pelo principio matemático de “elementos finitos”, onde os planos topográficos se dão por linhas espaçadas (maior planaridade) ou concentradas (topografia mais acidentada), copiadas traço a traço, onde demoramos  a perceber a composição que vemos.

Com as pinturas o processo é um pouco diferente, ainda que a matriz seja a mesma. E aqui se revela outro dado para nossa apreensão destes trabalhos. Muitas vezes uma cultura clássica e onipresente torna-se um fardo difícil de carregar;  ninguém convive com a sombra do Duomo de Florença naturalmente…

As pinturas de Cesare, sejam as que resolvi denominar “matizadas” (paisagem azul 1 e 2, paisagem amarelo 1 e paisagem com arcos) ou as “pretas” (paisagem preto e azul, paisagem preto e verde, paisagem preto e vermelho e paisagem preto e amarelo), guardam uma ambiência da pintura metafísica de De Chirico e de Mário Sironi mas também de um distante Paolo Ucello. Cesare, em certa medida, consegue lidar com o fardo histórico da arte italiana de uma maneira própria, o que não é pouco. Assim como  os metafísicos, para usar as palavras de Argan, ele cria uma “outra” realidade onde elementos inconcilíaveis coexistem placidamente, mas cria seu léxico próprio seja nas cores duras das pinturas “pretas” ou numa expressividade cromática mais rebaixada nas “matiz­adas”. Por outro lado, ao utilizar a perspectiva e sua construção matemática exata Cesare também deixa de usar os efeitos de luz e sombra optando por não suavizar os contornos das pinturas de forma clássica mas fazendo isso cromaticamente (nas “matizadas”) ou através da enfatização polarizada do branco e preto (nas pinturas “pretas”); porém onde Ucello deixa de usar artifícios por desconhecimento técnico (como exemplificado por Gombrich) Cesare opta por fazer ou não o uso destes mesmos artifícios que ele demonstra dominar.

Talvez seja por esta circularidade de referências, técnicas, meios que estes trabalhos recentes nos causem interesse. Quase como o funambulo que, em sua corda bamba, se equilibra de forma arriscada mas nunca deixando de seguir em frente.

Texto: Marcelo Salles


CESARE PERGOLA (Limosano, Itália, 1955)

Arquiteto e artista italiano, vive no Brasil desde 2009, é diretor-curador da Galeria Belvedere em Paraty, RJ, e idealizador e diretor artístico do concurso nacional de arte contemporânea “Prêmio Belvedere”.

Foi professor de arquitetura e design no IED Istituto Europeo de Design de São Paulo, na Accademia Italiana de Florença, no Chanapatana International Design Institute, Bangkok, na Faculdade de Arquitetura da Universidade Estatual de Florença, membro examinador no Royal College of Art de Londres.Publicou vários livros, entre os quais ”A cidade dos sentidos”, Alinea Editora, Itália, 1997.

Exposições selecionadas:
2011 “LUTADORES DO MUNDO” Museu Afro Brasil, São Paulo
2010 “TERRAS INDÍGENAS” Memorial dos Povos Indígenas, Brasília
2005 “THAI COLORS” Bangkok, Thailândia
2001 “LA CITTÀ DEI SENSI” Villa Montalvo, Florença, Itâlia
2002 “COLETIVA” Orbetello Gallery, Los Angeles, E.U.A.