Grupo Pigmento

Interurbana (entre Santos e Campinas)

Celebrando os cinco anos do PIGMENTO, no dia 19 de agosto de 2017 será lançado o catalogo que registra as exposições em Santos e Campinas. Com projetos aprovados em editais, o grupo formado por treze artistas ocupou o espaço da Galeria Bráz Cubas, na Secretaria de Cultura de Santos e do Museu de Arte Contemporânea de Campinas “José Pancetti”, em 2016. Através de encontros quinzenais e discussões na Casa Contemporânea, as duas coletivas foram elaboradas com abordagens diferentes resultando numa grande diversidade de obras, apesar dos mesmos artistas participantes. Além do lançamento dos catálogos elaboramos a mostra Interurbanas, entre Santos e Campinas com trabalhos dos integrantes: Adriana Pupo, Cecilia Pastore, Cyra de Araújo Moreira, Elisa Bueno, Fabio Hanna, Helena Carvalhosa, Lilian Camelli, Mariana Mattos, Marina de Falco, Renata Pelegrini, Roberto Fabra, Rosana Corte-Real Pagura, Vera Toledo e Rosana Corte-Real Pagura.

Lançamento dos catálogos: 19/08/2017 às 11h30.

Visitação da mostra: de 22/08 a 02/09

segunda a sexta das 14h às 19h.

sábados das 11h às 17h.

Clique aqui e veja o Catálogo da Exposição!

Nota Introdutória: o PIGMENTO existe há 5 anos, formado por artistas que se encontram quinzenalmente para discutir sua produção, arte contemporânea, enfim, sobre o que faz com que continuem a produzir arte em tempos confusos como o nosso. O PIGMENTO é mais que um grupo ou um coletivo ou uma reunião periódica de artistas: PIGMENTO são treze artistas, treze maneiras de ver o mundo através de pinturas, gravuras, instalações, performance, objetos, desenhos e esculturas. Nesta exposição mas como estímulo ao olhar e ao pensamento tanto dos artistas como dos visitantes”.

 

“Não o pensamento , mas a potência do pensar”
Giorgio Agamben (em referência à Aristóteles)
“…mas não é o caos a pura potência do porvir?”
autor anônimo indiano

 

Pigmento em Campinas (ou buscando entender o caos) 

Palavras tem significados. Algumas trazem um peso maior derivado não tanto do que sabemos desse significado, mas da carga adquirida. Caos normalmente é associado ao descontrole, catástrofes naturais, mudanças não planejadas em nossas vidas; seria, portanto, aquilo que nos surpreende porque não fomos capazes de prever ou pensarmos a respeito escapando, desta forma, a qualquer controle ou dominação possível. Talvez isto derive do fato de que a espécie humana foi capaz de exercer um controle sobre quase todas as coisas com as quais ela entrou em contato. Foi esse aspecto diligente e criativo que possibilitou sermos mais de oito bilhões de pessoas no mundo. Se não dominássemos a natureza não poderíamos ocupar praticamente qualquer região do globo terrestre ou sobreviver a doenças através de drogas sintéticas ou intervenções cirúrgicas e não seriamos mais do que algumas dezenas de milhões.

Soa estranho que o sentimento de onipotência, advindo desse domínio conquistado pela inteligência humana, possa ser abalado à simples menção de determinadas palavras. Há pessoas que não mencionam dor, morte ou caos, por exemplo, pois estas palavras tem aquela carga citada acima, como se, ao nomeá-las, elas tornar-se–iam de pensamentos em atos e daí em algo estabelecido que não podemos controlar. Por isso quando o inusitado acontece ele nos surpreende. Deveríamos olhar para o caos não como um descontrole, mas como uma ordenação da qual ainda não nos demos conta.

Acredito que justamente aí a arte pode nos ajudar singularmente; o objeto ou obra de arte é um pensamento transformado em ato, mas ainda guarda a potência de transformar-se em pensamento de novo, cabendo àquele que vivencia a experiência a escolha de torna-lo ato novamente. Essa indefinição, ou caos, é apenas uma aparência. O caos é apenas uma ordenação que ainda não entendemos.

Esta exposição desenvolve-se exatamente assim: da aparente desordem questões contemporâneas e atemporais emergem com toda força. Abordagens políticas como o esgotamento dos recursos naturais, o consumismo, o problema dos refugiados e das guerras ou a dissolução de regras democráticas em nosso país tomam forma. A representação do real ou do pensamento abstrato e as questões de gênero também estão presentes, de maneira usual ou nem tanto. Talvez nos chamem a atenção mais fortemente trabalhos que lidem com as questões atemporais como a memória, laços familiares, vida, morte, superação.

Através da arte a potência do pensar pode colaborar para nossa compreensão daquilo que nos surpreende ou que nos assusta, daquilo que nos entristece ou nos deixa atônitos. Pode, inclusive, fazer com que aceitemos o caos e perceber que ele apenas antecede tempos vindouros.

 

Marcelo Salles


Grupo PIGMENTO, formado em julho de 2011, sob organização e acompanhamento crítico de Marcia Gadioli e Marcelo Salles, na Casa Contemporânea onde realizam encontros quinzenais com discussões sobre a produção dos onze artistas e fazem reflexões sobre arte contemporânea, sobretudo questões relacionadas à pintura.

O PIGMENTO tem a pintura como linguagem central de sua pesquisa prática, teórica e poética; porém cada artista integrante do grupo tem um processo diferente, e, por conseguinte, a visão de mundo que cada um nos oferece conta com diversos olhares, processos e modos de apresentação de uma linguagem como a pintura que já teve diversos reveses no decorrer de sua existência, tendo sua morte proclamada por diversas vezes; mas que ressuscita e a cada queda retorna e instiga artistas a pensá-la, a discutí-la e a ter uma produção contemporânea destes pensamentos a cerca da pintura e suas possibilidades artísticas na atualidade. Por isso exposições são importante, sendo ao mesmo tempo a pergunta sobre as possibilidades da pintura na contemporaneidade, como também uma tentativa de resposta ao mostrar uma maneira dentre as diversas existentes.

“O que une um grupo de pessoas para atingir um objetivo ou, o que torna essa tarefa ainda mais difícil, para definir um objetivo?”

A resposta mais óbvia para a questão acima seria a arte e, neste caso específico, a pintura. Todavia, ela tanto poderia ser este elemento de união quanto seria o céu para um astrônomo: um veículo, um meio, onde nos desenvolvemos, procuramos algo do qual temos apenas uma idéia ou onde permanecemos em intervalos de tempo. Ficou claro para mim, ao longo das reuniões e de uma convivência mais estreita com os integrantes no período de mais de uma ano de existência do grupo, que essa resposta se encontrava em algo mais amplo e que se colocava como uma reação a uma época de incertezas. O humanismo remonta mais de cinco séculos e, de forma simplificada, marca o pensar sobre as relações do homem com seus semelhantes e consigo mesmo, mas também com seu habitat, mediados não mais por um ou mais deuses, mas sim por conceitos lógicos, apoiados em teorias tecno-filosóficas, e éticos como justiça, tolerância, compaixão. Esse humanismo clássico, renascentista, reverberou na virada do século vinte de maneira paradigmática. Através do projeto moderno, o humanismo se atualiza e tenta teorizar e compreender as rápidas mudanças sociais que aconteciam, acreditando que utopias poderiam tornar-se realidade, notadamente as de caráter igualitário, sanando as falhas do passado pelo racionalismo e o progresso da ciência. Porém a realidade acabou por sufocar, também, esse “humanismo moderno”; das barbáries da segunda guerra até a queda das torres gêmeas, em que pesem espasmos como o maio de 68, a queda do muro e, mais recentemente, a primavera árabe, não faltaram acontecimentos que indicassem que essa forma igualitária, a convivência entre diferentes, a tentativa de transformar utopias, mesmo que simples, em realidade estava definitivamente enterrada. Alguns autores chegaram até mesmo a decretar o fim da História e, portanto, de um projeto moderno. Talvez tenham esquecido que essa mesma História não se move simplesmente em círculos ou em linha reta, mas em uma espiral ascendente…

Pois bem, o que vejo como um traço comum a este grupo, na forma da dedicação de cada um para a criação de algo coletivo sem se anular a individualidade exemplificada pela criação autoral, envolve também uma relação com o projeto moderno, com um humanismo que ressurge, diferente é claro; é agora um humanismo um pouco desencantado, mais realista, onde utopias voltam a pensar-se como possíveis (mas não uma utopia do possível como sinônimo da mediocridade). Esse ponto de contato entre os integrantes do grupo é o que faz acreditar na resposta para a pergunta que me fiz no início. Essas pequenas utopias deixam de sê-las porque algumas pessoas enxergam que outras realidades são factíveis e que, ao pensar e agir, nossas falhas, anseios, acertos, temores, ódios, alegrias, colocam em evidência o que há de humano em nós.

Marcelo Salles

O grupo Pigmento é formado por:

Adriana Pupo, Cecilia Pastore, Cyra Moreira, Elisa Bueno, Fabio Hanna, Helena Carvalhosa, Lilian Camelli, Mariana Mattos, Marina de Falco, Renata Pelegrini, Roberto Fabra, Vera Toledo

VÍDEOS DO GRUPO PIGMENTO

Diálogos #1

Pigmento – Conversa com artistas

Pigmento – Conversa com Paulo Pasta

Grupo Pigmento