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a biblioteca que eu vi

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Zwei Arts

Exposições

a biblioteca que eu vi

A Biblioteca que Vimos

No final dos anos de 1930 o plano de construção de uma grande biblioteca central em São Paulo torna-se realidade, dando seguimento ao ideal de uma modernização que atingiu, em diferentes graus, os países latino americanos. Ainda que esse intuito de modernização fosse de cunho eurocêntrico ele convivia com uma busca por uma identidade nacional através de aspectos culturais, daí o protagonismo de agentes das artes (em suas várias manifestações) nas discussões da sociedade e nas políticas de Estado. Exemplo disto é que o prédio da BMA foi projetado por um arquiteto francês, Jacques Pilon, e recebeu o nome de um importante pensador e pesquisador da cultura brasileira: Mário de Andrade.

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Como vemos uma biblioteca nos dias de hoje?

Esta foi a principal pergunta feita aos artistas integrantes do grupo PIGMENTO quando do início das discussões sobre o projeto desenvolvido para a Biblioteca Mario de Andrade (BMA). A partir dela foram se ramificando  outros questionamentos que dessem conta do Universo que é uma biblioteca [1] e, em nossas reuniões quinzenais, foi ficando muito claro que várias abordagens, vários olhares, seriam mais coerentes com  duas premissas adotadas: encarar a arte como forma de pensamento questionador sobre problemas atuais e, segundo, estabelecer ligações entre as diferentes abordagens de maneira constelar. O ponto central desta constelação foi o próprio prédio da BMA, o corpo físico da biblioteca. Este ponto de origem se expande sob a visão de cada artista, de uma maneira mais direcionada: foram lidos e discutidos três textos ou excertos que tratam de uma modernização do país através da arquitetura e relações urbanas; da arte numa linguagem distinta da arte visual (a literatura); e da história, através de algo emblemático que reverbera até os dias de hoje (o período da ditadura). Essa dinâmica foi capaz de estimular o pensamento e consequente surgimento dos trabalhos.

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A arquitetura do prédio da BMA é o tema de Adriana Pupo (pg. 9) e de Renata Pelegrini (pg. 22), mas o que elas captam não é necessariamente o visível e sim da ordem de uma “carga” histórica que habita as edificações (Adriana) ou de uma presença fenomenológica dos ambientes (Renata); chama a atenção em ambas como podem ser diversos os olhares sobre uma única questão. Vera Toledo (pg. 24) e Rosana Pagura (pg. 23), por sua vez, abordam os espaços da biblioteca como coadjuvantes de seus trabalhos. Vera nos fala destes espaços através de seus “usuários” ou de detalhes pouco usuais (como a pintura ralinho), da instalação biblioteca perdida ou mesmo através do auto retrato. Rosana também tem os usuários da BMA em suas pinturas, mas talvez o que mais desperte a nossa atenção seja a relação dos meios tecnológicos com a própria biblioteca e seus personagens, de uma convivência que se estabelece.

Personagens são a melhor definição para os habitantes das telas de Helena Carvalhosa (pg.14). Porém, nestes trabalhos, temos a dimensão do imaginário presente, já que Helena concebeu visualmente personagens presentes na literatura. A literatura, enquanto manifestação cultural através da linguagem, junto de seu veículo por excelência, o livro, foram levados para a pintura por Céci Pastore (pg. 10) onde os signos linguísticos tornam-se inapreensíveis e componentes de uma paisagem insólita. De paisagens também são compostos os trabalhos de Elisa Bueno (pg. 12); todavia, somos colocados em dúvida quanto à estas paisagens, dotadas de uma certa incompletude, ao lado do livro de artista que ela executa sobre um volume do cientista George Marcgrav: será apenas de paisagens que ela pinta / fala? – esta dúvida também surge nos trabalhos de Cyra Moreira (pg. 11) pois tanto no trabalho Homenagem à BMA quanto em Lingua Portuguesa (em parceria com o artista Fábio Hanna) são trechos de textos que estão reproduzidos (de Neruda e Olavo Bilac, respectivamente); a reflexão, como fenômeno ótico e mental, que ela nos induz é para que lembremos das atrocidades do fascismo (em Neruda) e de acontecimentos trágicos como o desastre de Mariana (como referência de Bilac).

Não deixar que o esquecimento se abata sobre uma sociedade é o que estimulou Lilian Camelli (pg. 19) nas pinturas expostas e principalmente para a instalação Tapa Ojos, que tem seu enfoque no período ditatorial que acometeu seu país, mas também nos trabalhos Ñandutis de forma que se mantenha viva uma manifestação cultural paraguaia.

Fabio Hanna optou por duas vertentes de trabalhos a partir da BMA: as relações urbanas que mantemos com a cidade e as colagens ligadas ao âmbito da escrita. Ambas as séries trabalham também com algo caótico, seja organizando-o (as pinturas), seja enfatizando o caos (colagens).

Por fim, Mariana Mattos (pg. 20) e Marina de Falco (pg. 21) poderiam ter seus trabalhos definidos por duas palavras: diálogo e compreender. O substantivo nomeia um dos trabalhos de Mariana (Diálogo), mas ela optou por uma comunicação que deve ser feita questionando o senso comum, quase como se inventasse palavras (como em Dicionário Figurado da Memória-Papel). Marina usa um verbo (compreender em Fac-Símile) para uma ação de aproximação com Mário de Andrade e através de uma instalação sonora nos coloca em contato com uma pequena parte de sua produção. Talvez esta seja uma maneira para nos compreender: vermos nossa história com os olhos de hoje para pensar algumas questões e vislumbrar respostas, ainda que ocorram num tempo futuro.

Marcelo  Salles
curador


[1] Para fazer jus a isto usamos o termo Constelação para definir o eixo curatorial