Exposições
Exposição – Lília Malheiros
Com curadoria de Taisa Palhares e Marcelo Salles, a Casa Contemporânea exibe a partir de 29 de fevereiro trabalhos recentes de Lília Malheiros. A cor tem papel central nas suas pinturas, feitas sem estudo ou projeto prévio em acrílica e óleo sobre tela ou papel.
Em sua primeira exposição individual, Lília Malheiros apresenta um conjunto de trabalhos que surpreende pela qualidade e intensidade de suas cores. Na contramão de grande parte do que se tem visto em grandes exposições midiáticas como sinônimo de pintura contemporânea, a artista aposta na capacidade afirmativa, e por que não arriscar, emancipatória, da matéria densa que vibra na superfície de seus quadros. Há neles a inteligência de um olhar que soube condensar de forma reflexiva uma sabedoria pictórica que caracteriza de modo muito particular a pintura brasileira dos últimos 20 anos, sobretudo aquela que vem se realizando em São Paulo. Penso aqui no trabalho de grandes coloristas como Paulo Pasta, Fábio Miguez, Sérgio Sister, Rodrigo Andrade, entre outros, que a despeito das idas e vindas das modas ou tendências artísticas, continuaram durante todos esses anos pintando e acabaram, a meu ver, estabelecendo as bases para uma rica tradição da Pintura Brasileira Contemporânea que já não pode ser mais ignorada.
Lília Malheiros se formou neste solo fértil e é evidente que mantém afinidades com estes artistas. Seus quadros revelam a mesma vontade de expansão por meio de grandes campos de cor que encontramos, por exemplo, nas telas e desenhos de Sister. Por outro lado, há uma delicadeza tonal nas suas composições, uma melodia afinada que nos lembra Pasta. Assim como nos quadros de Miguez dos anos 2000, há aqui também uma sobreposição de faixas e outros elementos geométricos que remete ao processo de colagem e sua função de desconstrução do espaço unitário por meio da quebra da grade moderna: espaço contemporâneo que dificilmente aceita de maneira pacificada a ilusão.
No entanto, seu trabalho é isso tudo e outra coisa. O que não é nada simples ou banal. Suas telas apresentam uma tensão entre a vitalidade de cores de alta voltagem expressiva e uma ordenação mínima do espaço. A presença estabilizadora de uma geometria, deduzida à princípio de uma provável linha do horizonte contribui, antes de mais nada, para que nosso olhar não seja nem capturado para o interior da tela, nem vagueie sem rumo por sua superfície. Há um duplo movimento que busca um equilíbrio entre esses grandes campos monocromáticos de cor, que a princípio têm um efeito bastante envolvente, e os descolamentos das faixas, também em cores poderosas, que entram como uma espécie de elemento dissonante, evitando que o campo espacial se dissolva em uma experiência apaziguadora. O trabalho de Lília Malheiros nos lembra da necessidade de mantermos aberta a porta da espontaneidade nos tempos homogêneos que nos cercam, mesmo que a partir de uma estrutura aparentemente repetitiva.
Texto: Taisa Palhares