Exposições
Exposições ‘Matraca’ de Clarice Vasconcellos e ‘Janela Muda’ de Rita Balduino
Matraca da artista Clarice Vasconcellos, que teve curadoria de Marcelo Salles e Janela Muda da artista visual Rita Balduino, resultante de interlocuções com a artista Rafaela Jemmene.
Abertura: 11 de maio de 2013, 14h
Visitação: 14 de maio de 2013 à 15 de junho de 2013
Matraca ou a Incompletude das Coisas
Estamos fadados a ser incompletos. E fadados a procurar uma complementação.
Religião, dinheiro, poder, cultura, arte. Como a vida não basta, criamos escoras que nos sustentem ou aplaquem a insatisfação. Arte e cultura parecem sair-se melhor nesta tarefa mesmo que, paradoxalmente, venham perdendo importância e/ou venham a reboque dos demais.
A religião, por exemplo, adquiriu uma assustadora relevância nos dias de hoje; desta forma é difícil para um artista contemporâneo lidar com a questão sem ficar refém ou do politicamente correto ou do “chocar” gratuito.
Clarice age em outra chave. Tanto a instalação Tô de olho em você como Lave main tem uma ironia leve, nada cínica ou caustica que podem nos atrair justamente por isso. Porém, tanto a instalação sonora que dá nome a exposição (Matraca) quanto Sexta-feira, ainda que possuam este caráter de leveza são mais críticas. Através de palavras encadeadas e ditas em torrente Matraca vai construindo mentalmente em quem escuta imagens ou conceitos. Sexta feira, com sua leveza metafórica e visual foca um assunto mais complexo e espinhoso: o sincretismo religioso e, conseqüentemente, a falsa idéia de sermos um povo sem preconceitos.
Procissão afasta a concepção leve ou irônica e tem um viés mais questionador: ela torna explicitas nossas diferenças? Estar em um mesmo local, com um mesmo objetivo, nos torna “iguais”? E quando esta atividade cessa, voltamos a ser diferentes ou nos conscientizamos de nossa origem comum? Aceitar uma convenção social episódica nos absolve de pensar coletivamente?
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A exposição Matraca não fala de religião. Fala de reminiscências.
São as lembranças de uma educação rígida em colégio religioso em contraponto ao avô que se paramentava de branco para ir à sessão de candomblé. Estar em um culto ou atividade católico e a cabeça voando com outros pensamentos e palavras.
Essas reminiscências são as verdadeiras escoras onde estamos apoiados. A partir delas vamos construindo nossas histórias, tentando sanar nossas incompletudes, escrevendo nosso livro no tempo. Não é gratuito que um dos trabalhos da exposição seja chamado Livro das Horas.
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A arte ainda é capaz de falar ao outro, de dizer algo sobre o que somos e como somos. Não sejamos ingênuos, porém.
Quando o artista fala de si, de forma honesta, ele fala de todos. Ainda que o entendimento não seja pleno o dialogo se inicia e colocamo-nos em contato.
Não fugimos do que somos. Principalmente quando optamos pela arte.
Janela Muda
A artista visual Rita Balduino apresenta obras do processo de pesquisa realizado no último ano em que aborda questões da imagem digital. O desenvolvimento do trabalho se deu a partir de uma residência artística autoproposta ao transferir seu ateliê para a Casa Contemporânea, passando a participar de grupos e cursos ministrados neste espaço cultural. Na sua primeira exposição individual opera com imagens digitais como procedimento de linguagem. Instalações, fotografias e objetos integram a mostra.
O primeiro trabalho é composto por nove fotografias digitais, em dimensões variadas, apresentando figuras fragmentadas e distorcidas por sinais corrompidos e falhas de transmissão digital na TV. Um pequeno monitor apresenta o título da instalação: “Não entre em contato com a Central” visto de forma intermitente com imagens abstratas. O trabalho propõe um contraponto à difusão apressada no mundo da informação, que estabelece um tipo específico de condicionamento temporal, numa ação de resistência aos espaços de mídia que permeiam a quase totalidade da vida contemporânea e moldam o nosso entendimento de mundo.
“A distância é um lugar perto dos olhos” aborda a questão da visibilidade das coisas e do próprio ato de ver. A artista transforma o espaço de circulação em espaço de visão através de uma intervenção na arquitetura, Apresenta uma projeção sobre a janela da sala e o objeto-título em neon, onde a obsessão do olhar enfatiza um jogo ambíguo entre distância e presença, entre o tangível e o visível.
O terceiro trabalho apresentado pela artista é uma “caixa-máscara”, iluminada por dentro, adesivada com texto recortado que deixa passar a luz para o espaço expositivo. Partindo da idéia de arquivos corrompidos através da transformação de imagens em texto, “Caixa de Diálogo #1” é um objeto instalativo que opera na intersecção de experiências espaciais, perceptivas e linguísticas.
Alegoria da Caverna de Platão? Caixa-Preta de Flusser? Como tirar o véu daquilo que não se pode atingir? O que se vê projetado é o positivo, as letras e sinais de uma linguagem codificada, mas é no seu negativo que estaremos imersos, caminhando na sombra da grande caixa.
*O projeto da mostra foi desenvolvido por meio de interlocuções com a artista Rafaela Jemmene.