Sobre uma Exposição – Sete na Casa
O que é uma exposição? Como a vemos ou como ela se configura? Seria ela um “evento”?
Essas são perguntas que faço não só em relação às exposições aqui na Casa Contemporânea, mas em outros espaços e condições, além de teorias que tentam transforma-las no próprio trabalho.
Uma exposição não é simplesmente um ajuntamento de trabalhos (embora muitas exposições o sejam…) tampouco um evento convertido em trabalho; se assim, simploriamente fosse, prateleiras com louças ou com auto peças também estão expostas ou então ela se reduziria ao dia da abertura e, portanto, morreria assim que nasce. Exceto se todos os dias fossem de abertura… convenhamos que neste caso melhor seria ir a um show já que, aí sim, a única intenção é se divertir.
A dimensão de uma exposição é bem outra: é a dimensão do questionamento e da explicitação da dúvida sobre o fazer, onde o artista coloca não só para quem vê como para si mesmo sua produção fora da proteção do atelier.
Tendo uma trajetória de alguns anos em pesquisa e produção é assim que este grupo de sete artistas se coloca para nós.
Os desenhos de Beatriz Nogueira poderiam ser classificados também como site specific pois, em sua relação simbiótica com o espaço que ocupam, seus quase esqueletos e colagens vão crescendo ao mesmo tempo em que transformam o espaço em que estão e que nos recebe.
Analogamente, Ana Almeida com suas esculturas moles, quase seres que perpassam pelos espaços como se procurassem algo, talvez sua própria história, completa-se com uma série de fotos. Nada mais apropriado que o título Quando fui outro, retirado de Fernando Pessoa.
Eliana Assis, com o trabalho segundo clichê, usa imagens de jornal onde intervêm tanto na imagem como na disposição gráfica. Aqui não há intenção de uma história a ser contada, mas sim uma maneira de intervir em um suporte truncado, congestionado e através disto ressignifica-lo, alterando imagens para criar composições variadas.
Marilde Stropp ocupa a sala de vídeo com Água Pesada. Como na poesia dinâmica de Edgar Alan Poe aqui a visão idílica de cursos d’água límpidos cede lugar a um magma infecto e repugnante que, porém, nada mais é que… água.
Na parte superior temos Ruth Alvarez, Natasha Barricelli, Beatriz Nogueira e Malvina Sammarone.
Beatriz, de forma diferente de sua intervenção no piso inferior, instala um portal que parece ora dividir a sala em duas ora serve como uma moldura para o que vemos, mas é um elemento autônomo. Natasha também cria uma “moldura” para uma imagem, mas qual é ela? Tal e qual o roubo de uma peça famosa, o inventário de Natasha se faz pelo que não vemos, mas intuímos que havia.
Ruth Alvarez tenta dar presença ao tempo com Relógio de areia. Através de um vídeo e desenhos mostra-se uma tarefa interminável tornar visível o tempo, mas por meio dessa circularidade tomamos contato com a dimensão abstrata desse tempo, que oscila entre o racional, o mecânico e o intuitivo, o biológico. Talvez, dessa forma, possamos compreendê-lo melhor.
Malvina Sammarone, com o projeto um em cada mão, também oscila entre dois campos. Os vídeos que ela apresenta, mais do que um processo são metáforas do fazer artístico, do embate entre um lado racional e outro intuitivo. Aqui a busca da coordenação física incerta, tateante, em traduzir um enunciado mental tem uma demonstração clara.
O trabalho artístico é, na grande maioria dos casos, um fazer solitário. Unir-se em grupo pode nos ajudar a pensar, facilitar atividades externas a este fazer, mas ligadas a ele. Não é outro o motivo pelo qual o artista produz para si mesmo, mas busca o outro porque sabe que é isto que o conecta com a humanidade e, em essência, com o que ele é.
Texto de Marcelo Salles